Ratinho Jr. jurava de pés juntos que daria reajuste para o funcionalismo caso eleito governador. Na época da campanha, chegou a usar a tevê que o Estado concedeu à sua família para dizer que estava articulando a reposição. Estava como deputado, mas na condição de líder da bancada tentaria garantir isso ainda em 2018. Afinal, os servidores, dizia ele, já deram sua cota de sacrifício.
O discurso, como se comprova agora, era uma fraude. Ratinho não pretende dar um único real de reajuste ao funcionalismo. Numa mudança radical de postura, diz agora que sua função de governador é cuidar do caixa, evitar que o Paraná vire outro Rio Grande do Sul, outro Rio de Janeiro.
É uma teoria estranha. De nada adiantaria ter um orçamento todo em dia se o governo não atendesse às necessidades das pessoas. A função do governo não é cuidar do caixa: é cuidar das pessoas. O orçamento é um meio para que isso aconteça.
Já estamos acostumados a ver governantes mentirem mais do que companhias telefônicas, fazerem mais promessas vazias do que cassinos fraudulentos; mesmo assim, não deixa de ser chocante a guinada de 180 graus que o governador deu em poucos meses.
O funcionalismo é a primeira vítima da tapeação. Com 17% de defasagem acumulados, os servidores verão o rombo em suas contas passar de 20% até o ano que vem, se não arrancarem alguma coisa na base da luta sindical.
A segunda vítima é a população, que vai sendo atendida por pessoal cada vez mais desmotivado e que verá, ao longo do tempo, as carreiras atraírem gente menos qualificada, em função dos salários mais baixos.
Mas a grande vítima de tudo é mesmo a democracia, que vai ficando fragilizada a cada vez que um governante se dá ao direito de fingir que é uma coisa na campanha para virar seu exato oposto assim que senta na cadeira de gestor. Como acreditar em quem vier a seguir?
Ratinho jurou que daria reajuste, não dará. Jurou que não seria Beto Richa, mas está caminhando exatamente pela mesma estrada do ex-chefe.